Segurar uma Mulher é Igual a Bater.
O homem é violento.
Se você acredita que não é perigoso, é ainda mais selvagem. Sua raiva está reprimida, prestes a desaguar por um motivo banal.
Não brigamos intencionalmente,
brigamos por soberba, quando nos julgamos imunes ao pior e terminamos
pegos desprevenidos pelo monstro que somos.
Todo homem requer consciência de sua agressividade para nunca desrespeitar uma mulher.
Não deve confiar nas aparências,
alegar que é educado, que é sensível, que é romântico – este é o
caminho mais rápido à fatalidade.
Todo homem, apesar da feição civilizada, é um pugilista manso, um lutador amarrado, um arruaceiro contido.
A violência doméstica não é exclusividade dos outros, não é possessão do demônio.
Você é violento, não se sinta
mal, não está sozinho nisso, eu sou violento, talvez mais violento do
que um cão com raiva, do que um tigre magro, do que um leão levemente
envelhecido.
É normal a coexistência da maldade e da bondade, do claro e do escuro, do divino e do bestial num só gesto.
Poeta, engenheiro, arquiteto,
violinista, florista, não há profissão que nos salve do grito, dos
punhos fechados e da ânsia de eliminar a resistência na base da força.
A questão é não permitir a ebulição da ira. Fugir das situações de descontrole, do deboche e da penúria do humor.
Evite se expor às ofensas por mais de duas horas – há uma cota de desaforo suportável pelo sangue.
O homem é Etna, é Fuji, é Vesúvio, um vulcão adormecido que pede vigilância perpétua.
Não batemos porque somos
provocados. Batemos porque desejamos acabar com a crise de qualquer
jeito. Batemos porque não nos conhecemos, e sempre deduzimos que uma
agressão na adolescência representou uma exceção, que uma vez trocamos
sopapos no trânsito para nos defender. Deliramos que o ato de jogar a
cadeira na parede apenas traduziu um momento.
Nenhuma justificativa pode
disfarçar o problema de fundo: somos naturalmente violentos. Ouça-me
enquanto é cedo e não ameaça sua companhia.
Nenhuma explicação abafa o ódio.
Reconstituição somente existe depois da morte, o inferno e o Presídio
de Charqueadas estão lotados de desculpas.
Tatue a Maria da Penha nas pálpebras, tome as providências para não se achar imutável e maior do que a realidade.
Esmurrar a porta já é invasão. Arranhar a mulher já é soco. Empurrar a mulher já é espancamento. Não invente atenuantes.
E, por favor, não segure sua
mulher, mesmo que seja para acalmá-la, mesmo que seja para contê-la,
mesmo que seja para abraçá-la e dizer que a ama. Segurar num momento de
tensão é igual a bater. Agredir sempre foi simples demais. A ternura que
é trabalhosa, a ternura que não é de graça, a ternura que leva tempo.
Cuide de si para cuidar de sua
esposa. Não batemos porque somos provocados. Batemos porque desejamos
acabar com a crise de qualquer jeito.
Comentário do Blog:
Porquê machismo é uma palavra ruim e feminismo, um vocábulo com o
benefício da dúvida? O título da crônica, assim como seu conteúdo
tangível, deve ser uma liberdade poética, uma cantada metafísica, porém,
no texto nada onírico da lei, pode conter uma verdade perigosa. Triste
País onde não se soluciona as coisas. Se faz desvios como esta
inconstitucionalidade. A justiça não funciona? Busca-se o jeitinho, uma
gambiarra jurídica que, em tese e em visão romantizada, protege a mulher
em situação de violência e, na prática, pode terceirizar ao Estado a
vingança em uma separação sem comum acordo. Nestas passionais questões,
descontando os crimes, a violência pode estar na forma como as partes
sentem uma ruptura ou uma rejeição. Uns reagem com dignidade , com
versos, outros a bala e muitos, menos divulgados, com a Maria errada.
Deveria ser a Bethânia. Um simples "acabou" pode ser uma estocada, para
um coração que não aceita ser contrariado. E, pior, a frieza desta lei
de gênero aceita isso como se fosse da natureza masculina, tangível e intencional. Aí que, a
amarga ou doce melancolia de uma poesia de amores findos, se espatifa
sobre o concreto da legislação, a qual transmuta subjetividades em, daí
sim, violência física e psicológica. Não se busca a igualdade
promovendo a discriminação.
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