quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A ex e o atirador.

Depois do casal Nardoni, no campo das evidências, agora é o show do motoboy psicopassional e a sua ex namorada, morta ao vivo. De tempos em tempos, um julgamento vira espetáculo, onde o público é levado a se imaginar em um tribunal. Ou, em alguns casos, um linchamento organizado. O caso, como infelizmente acontece até em lugares mais preparados, é uma boa amostra de quase todos os "defeitos" do sistema e do ser humano, criador deste ou responsável por ele. De mantê-lo assim e/ou não fazer o certo para fiscalizar e, se for o caso, mudá-lo. Esses julgamentos servem para alimentar a nossa sensação de que existe justiça e fazer parte, guardadas a sofisticação das produções, daqueles filmes de tribunal. Na sala do julgamento, não tem nem ar condicionado para o acalorado embate. Levando em conta o valor da folha é de estranhar a falta desta ítem para, pelo menos nas condições climáticas do ambiente, tomarem decisões de cabeça fresca.
O caso tem de tudo. O rejeitado que não aceita o final da relação. Se não consegue reatar, resolve retalhar. O que não posso ter, ninguém terá. Vale a pena desperdiçar até, a própria vida por uns instantes de vingança, algumas semanas de mídia e a eternidade na infâmia. Aos psicopatas lhes parece valentia, mas é pura irresponsabilidade. Irremediável irresponsabilidade. Uns fazem com as próprias mãos. Matam e, se deixarem, se matam depois, como um símbolo de arrependimento ou impedir a punição neste plano. Ou, ainda, para repetir um final "glorioso" recorrente? Quem sabe o que se passa na cabeça deles? Outros, mais covardes ainda, terceirizam, friamente ou não, a presumida violência da retaliação. Repassam as Autoridades, através dos mecanismos possíveis, a tarefa de ameaçar e, dependendo do retorno, vingar. No primeiro tipo de descontrolados, como consolo, se isso tem algum, após o ato absurdo os desvairados costumam, se der tempo, se ejetam deste mundo antes que a força pública consiga tocar neles. O segundo tipo de despreparado, na contramão dos que sabem conduzir um final de relação digna, até comemoram, com suas consciências seletivas ou, ainda, inexistentes. Cada louco com sua vingança passional e sua pena.
Em abos os tipos, como convém num estado de direito, sempre se encontra alguém para defender o indefensável e acontece um processo completo e, no mínimo, linear. Advogados movidos por vaidade, pela experiência radical, identificação com o caso, querendo investir na carreira ou, o mais comum, por dinheiro mesmo, sempre vão existir. Estes também, mais raro ainda, se arrependem ou se envergonham. Afinal, este é seu trabalho e não se faz justiça só ouvindo a acusação. Neste ponto todos deveriam entender o caso Lindemberg, ex que matou a inocente Eloá. Outra boa mostra dos defeitos de todas as partes envolvidas, foi a atuação das forças de segurança. Um show de trapalhadas, se não fosse uma tragédia no lugar de um pastelão. Esse é o sistema, disponível a maioria, quando precisa lidar com mais que papéis e medidas paleativas. Na vida real, na hora de lidar com gente potencialmente e realmente perigosa, os buracos podem ser mais em baixo ou, no caso, na cabeça. Até devolverem refém ao sequestrador propiciaram. A imprensa faz sua cobertura, em vários enfoques. Horas a fio, as vezes apenas com um camburão visto do alto se deslocando para ilustrar um conteúdo claudicante. O público também faz sua parte, se dividindo entre os tão passionais quanto o rejeitado a mão armada e os mais racionais, que sabem que todo mundo tem direito um julgamento justo. Mesmo um assassino patente, defendido por uma advogada que dá chilique, aparentemente movida por algum tipo de ambição. Ou presunção.
Resta esperar que a justiça faça a sua parte para reparar o irreparável. Pelo menos o senso de justiça deve sair livre.

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