quarta-feira, 24 de abril de 2013

Lívia descobre que a Maria da Penha funciona.


No meio da salada de temas sociais abordados na trama da novela global Salve Jorge, um cabelo com ponta dupla: o uso da Lei Maria da Penha para prejudicar alguém por motivo passional. A pilantra, personagem Lívia, usou seu direito a foro privilegiado para retalhar o seu amor não correspondido no folhetim, o exemplar Théo. Um embate onde cavaleiro, dragão e princesa se confundem. Como o instrumento prejulgou, na vida real, que todo ser humano do gênero feminino não é movido por nada além da razão, só diz a verdade e é incapaz de causar e desejar o mal sobre todas as forças, até da TPM, o personagem que, como a traficante de mulheres só existem na ficção, pode parecer ao espectador um bug no sistema. E do tipo mais inverossímil para quem não se tocou, mesmo depois da Glória Peres dramatizar, a armadilha que é este remendo inconstitucional. Legítimo puxadinho sobre terreno instável. Quem sabe, no andamento rocambolesco da novela, mostrarão em tempo real a estabanação que são as medidas burocráticas tomadas, levando muito mais em conta o preconceito oficializado com tal lei do que um processo justo e minimamente democrático. Certamente não haverão oficiais da lei sexistas, que perdem processos, que nem ao menos ligam para averiguar as partes ou juízes que passam tudo para o estagiário, entre outras coisas que parecem de novela. A verdadeira vítima, pode levar meses, se não anos ou a eternidade, para reverter, mesmo que parcialmente, um estrago institucional que na Delegacia da Mulher é feito em tempo recorde. Estão aí as estatísticas da violência contra a mulher que não diminui e os relatos da ineficiência prática para provar que instrumentos assim não resolvem nada, a não ser aplacar a sede de vingança e dinheiro de Lívias e outras levianas. A maioria nem são marginais ou mentes do mal, mas são humanos falíveis, movidos por emoções, estas que acionam um dispositivo sumário, incompleto e em sistema completamente falho, que não protegem quem precisa, prejudicam inocentes e diferenciam os cidadão por gênero e estado civil. Fora da tela, é sempre possível que o dragão vença. Ainda mais se ele estiver disfarçado de donzela.